sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Uma trajetória na proteção animal: Acyr e Ceres

Oi!
Este texto é longo e conta parte do momento presente que estou vivendo em relação à proteção animal.
Esta sou eu:

Aqui, a pessoa e algumas das pessoinhas que dão alegria e sentido a minha vida:





E estes são nossos amigos, que nos ajudam servindo a ração:










E aqui é onde tudo acontece...





 

 Meu nome é Ceres, sou professora estadual, alfabetizadora. Amo muito a natureza. Em respeito aos animais, não como carne de espécie alguma. Por não aceitar o sacrifício a que são submetidos os animais, também não como alimentos derivados de ovos e leite.

Sempre fui uma pessoa feliz, com muita paz no coração. Mas, desde o início deste ano, tudo mudou em minha vida. A tristeza e o medo tomaram conta de mim. E eu não me reconhecia mais.

Vou voltar no tempo para que você entenda o que aconteceu comigo...

Há dezoito anos, meu irmão caçula comprou um cachorrinho poodle. Ele e o Acyr foram buscá-lo. O Infante era como uma bolinha cinza que rolava de lá pra cá, o tempo todo.


Mas já no primeiro dia ficou muito abatido e não comia a ração. Então o levei ao veterinário que constatou que o bichinho era muito novinho e não sabia ainda comer sozinho. A partir daí, dava mamadeira várias vezes ao dia para ele. O meu irmão viajou e tomei conta do Infante. Aonde eu ia, o Infante me seguia. As minhas férias acabaram e eu voltei ao trabalho. Preparava as minhas aulas com o Infante no colo. Quando saía para a escola, ele ia comigo até a porta. Minha mãe dizia que assim que eu saía, ele ia para baixo de minha cama. Ela sabia quando eu estava para chegar porque ele saía debaixo da cama para me esperar na porta. Fazia isto todos os dias. Aí, quando eu chegava, era uma festa!! O Infante não fazia xixi nem cocô dentro de casa e esperava por mim para levá-lo a passear. E assim foi por anos. Aprendi muito com ele, principalmente a dar e receber carinho. Acredito que me tornei uma pessoa melhor com ele. O valor desta imensa amizade não tem explicação... É um amor incondicional, pois me acompanha até hoje...

Eu e o Acyr casamos, e é claro que o Infante foi junto! Éramos um kit: Ceres e Infante ou nada!

Quando o meu amorzinho morreu, ficou um vazio em nossas vidas. Acho que aí, o Acyr descobriu que o amava muito mais do que imaginava. Eu chorava muito pela minha perda e acreditava que nunca mais teria um cachorro, que me limitaria apenas a respeitar os animais em geral. Foi então que o Acyr resolveu mudar esta situação. Ele sugeriu que comprássemos um cachorrinho. Ele não substituiria o Infante, mas seria uma alegria em nossas vidas. Eu recusei a sugestão mas ele me “arrastou” até uma agropecuária onde estavam muitos cachorros à venda. Ele comprou dois filhotes: o Dudu e o Pingo, para que um fizesse companhia ao outro... Mas no fundo, era para que, se um morresse, o outro amenizasse a nossa dor...

Quando ele foi pagar, um rapaz me chamou e perguntou se eu já tinha visto um filhote poodle marrom, que estava à venda na loja ao lado. Falou que achava que eu deveria vê-lo e foi embora. Fiquei curiosa pela maneira como ele falou e fui ver o tal cachorro. Para minha surpresa, ele era idêntico ao Infante, tinha uma cicatriz como ele tinha, do mesmo tamanho e no mesmo local. Só a cor dele era diferente. Uma alegria enorme tomou conta de mim: era o Infante que tinha voltado!! Voltamos felizes para o nosso apartamento: o Acyr, a Ceres, o Dudu, o Pingo e o Cacau...

Todos nós vivemos muito bem, durante meses. Até que um dia o Acyr encontrou um vira-latas atropelado na rua. Ele socorreu o cachorro, levando-o ao veterinário e depois, para casa. Demos a ele o nome Bonshanka. Então, ficamos com quatro cachorros e ninguém no prédio sabia disto. E os meses foram passando, passando...

Certa vez, houve um vazamento de água em um dos banheiros e chamamos o zelador para resolver o problema. Mas foi aí que nossos problemas começaram... O zelador ficou surpreso ao ver os quatro cachorros e espalhou a notícia para todos do prédio. As pessoas sabiam que tínhamos três cachorros, mas quatro!?! Isto poderia significar muitos mais.

Então minha vida virou um inferno! Eram incomodações e provocações diárias.

Propus ao Acyr que nos mudássemos para uma casa. E ele concordou. Alugamos uma com pátio grande em Esteio onde fomos morar, deixando nosso apartamento fechado durante dois anos.

Nessa cidade, também havia muitos cães abandonados nas ruas. Era um atropelado aqui, outro maltratado ali, um doente lá, ...

E assim começamos a recolher animais que necessitavam de ajuda nas ruas. Cuidávamos deles com carinho e respeito. As pessoas sabiam disto e deixavam outros em nossos portões. E assim, o número de cães aumentou muito. Novamente sugeri ao Acyr que deveríamos mudar para um lugar mais adequado. Desta vez, um sítio.

Procurei durante quase um ano por um sítio que pudéssemos comprar. Mas era muito difícil encontrar o local adequado com pouco dinheiro. Foi então que trocamos o nosso apartamento no centro de Porto Alegre pelo sítio em que vivemos hoje, em Viamão.

Moramos aqui em Viamão há cinco anos. Nunca ninguém reclamou dos cachorros para nós.

Fizemos os canis bem longe dos vizinhos, com os quais mantínhamos uma boa relação.

Há dois anos, passamos por uma séria crise financeira e não podíamos mais manter sozinhos a ração para nossos, então, 150 cães. Pedimos ajuda e ela veio de várias maneiras.


A partir daí, realizamos a Campanha da Ração na Usina do Gasômetro, sempre no último fim de semana de cada mês. Quem quer ajudar nossos cãezinhos, leva até a Usina qualquer quantidade de ração, de qualquer marca.










Assim como as primeiras campanhas nos ajudaram muito em relação à ração, o número de cachorros aumentou em função delas. Antes, não havia nenhum em coleira. Todos ficavam soltos em canis grandes, que também, com o tempo, foram divididos em vários.





Ficávamos constrangidos quando alguém que participava das campanhas nos pedia ajuda e sensibilizados com o animalzinho que precisava de um local para ficar. Os cachorros que vieram a pedido dessas pessoas mais os que recolhemos, fizeram com que os canis ficassem lotados. E aí começaram a surgir as casinhas pelo sítio... e para que ficassem nas casinhas, tivemos de abrir mão de uma convicção: sempre fomos contrários ao uso de coleiras e correntes, mas não havia outra maneira de abrigá-los. Isso reforçou nosso empenho nas adoções.






No início deste ano, apesar das dificuldades, eu estava feliz e esperançosa. Antecipei meu 13º salário de 2010 para comprar casinhas de concreto, pois as de madeira já estavam praticamente destruídas. Queria que meus amorzinhos tivessem mais conforto. O Acyr também comprou algumas e pessoas que nos ajudam nas campanhas compraram outras. Então, comprei tintas em cores claras (lilás, rosa, verde, azul, amarelo) e comecei a pintar as casinhas. Nós também construímos mais dois canis: um deles seria uma creche. Pintei tudo com muito carinho. Estava cheia de planos, feliz!






Queria tornar o sítio lindo, envolver as pessoas na causa animal. Queria que as crianças se motivassem quando aqui chegassem e desde cedo aprendessem a respeitar e valorizar a vida, os animais, a natureza enfim! Queria fazer um trabalho de conscientização...

Estava no auge da alegria quando, numa manhã fui surpreendida com a presença de uma equipe de reportagem de uma TV, chamada por um vizinho. Descontente com a presença do abrigo neste local, ele tentava mobilizar as pessoas contra o nosso trabalho. A atitude dele foi completamente inesperada pois nunca havia feito qualquer reclamação a nós. Nem ele, nem qualquer outra pessoa desta comunidade. Felizmente a reportagem foi conduzida em tom conciliatório. Fomos chamados à prefeitura em razão do abaixo-assinado encabeçado por este mesmo vizinho. Sabemos que abrigos de animais não são simpáticos a todas as pessoas. Afinal existem pessoas que nem gostam de animais e é muito devido à elas que eles precisam existir.

O constrangimento a que fomos submetidos e os comentários de que perderíamos os cachorros me afetaram de tal forma que fiquei doente, e minha vida parecia estar acabando. O medo de perder meus bichinhos foi maior do que qualquer coisa! Não adiantava os amigos conversarem comigo dizendo que nada disso aconteceria. A minha paz, antes tão grande, tinha acabado. Eu já não dormia e chorava o tempo todo. Abraçava meus cachorros como se fosse pela última vez. As cores já não existiam e meu projeto ficou para trás. Tudo aqui ficou feio. Pessoas passavam pela frente do sítio apitando e atirando pedras para provocar os cachorros. Eu tinha medo de sair de casa pois poderia acontecer algo de ruim com meus bichos. E várias outras situações desagradáveis ocorreram.

Para evitar o agravamento da questão, procuramos muita ajuda para incentivar o interesse nas adoções. Com isso, conseguimos considerável redução no número de cães aqui no abrigo. Mas, se por um lado as adoções estavam acontecendo, por outro eram deixados, às vezes, até dois a três cachorros juntos, alguns amarrados na mesma corda, em frente ao sítio. Isso nos fez concluir que, pelo menos esses eram provenientes do mesmo local. Também, constantemente, eram deixados filhotes em sacolas plásticas e caixas. Tudo isso me deixava cada vez mais angustiada...






Com toda essa situação, tornou-se imperativo murar uma parte de uma das laterais e a frente do sítio.

Como não temos condições financeiras para isso, o sufoco aumentou. Passava o tempo todo pensando nesse muro. Pensei até em fazer uma cerca de costaneira, mas assim como os canis, logo estaria destruída...

O ideal seria um muro de pré-moldado pois é rápido de construir e muito resistente...  só que é muito caro.

E continuava o tempo todo imaginando o meu muro... e ficava cada vez mais ansiosa, preocupada. Fazia um esforço enorme para ir nas campanhas da ração, pois não queria sair de casa. Tentava esconder das pessoas a minha angústia.

Na campanha de setembro último, quase não conseguia falar sem chorar ou trocar as palavras.

Foi aí que recebi ajuda, muita força. Foram anjos da Terra que me ajudaram a voltar ao que eu era antes. Serei sempre grata a estas pessoas especiais...

Então, há alguns dias, como de costume, levantei cedo e, quando saí pelo sítio, para minha surpresa, vi muitas flores brancas, rosas, amarelas, vermelhas e roxas.  Meu coração se encheu de alegria e meus olhos, de lágrimas. Parecia um presente de Deus. Algo teria que tirar disso...

E comecei a fotografar...





Que natureza linda! Como pude passar tanto tempo sem saborear essas maravilhas?!

Isto só poderia ser uma lembrança de que Deus cuida de todos nós, que somos amados e que a esperança existe. Aquela esperança que não apenas espera, mas que também age. E aí fiquei feliz, feliz, feliz!!! Uma força boa, poderosa, tomou conta de mim. Agora sei que tudo está dando certo e continuará dando certo.

O trabalho antes tão pesado para mim, parece ter ficado mais leve. Sou só eu para limpar todos os canis e casinhas, todo o sítio, dar remédios para os cachorros, etc... e o fato de não conseguir alguém que me ajude, já não tem importância. No tempo certo colherei os frutos. É incrível como podemos aprender e sentir tantas coisas em pequenos detalhes...

E O MEU MURO TÃO NECESSÁRIO?

Eu o vejo todos os dias, forte, colorido, protetor, com patinhas de cachorros pintadas nele, com crianças desenhadas abraçando cachorros, recortadas e coladas nele. É como um mundo mágico, leve, que um dia se tornará realidade.

Mas se você souber de alguém que possa me ajudar a construí-lo, me avise! (JJJ)...

E AS PESSOAS QUE NOS FIZERAM MAL?

A mágoa e a revolta que senti, se foram. Um coração pesado só pode fazer mal.

Quero tudo de bom para elas.

E QUANTO À DIFICULDADE COM A RAÇÃO?

A esperança é algo precioso. Tenho esperança que tudo melhore, mas não posso ficar de braços cruzados, esperando que a ajuda venha. Tenho de ir à luta. Por isso, peço ajuda à você.

Nossa campanha da ração na Usina do Gasômetro no mês de outubro de 2010, acontecerá nos dias 30 e 31, das 9 às 18 horas, mesmo que chova.

Coincide com a eleição do 2º turno e com o feriadão, e isto poderá atrapalhar um pouco. Mas não deixe de participar!! Sua ajuda é muito importante!!

Peço também que divulgue meu pedido de ajuda para seus amigos e conhecidos.

Isto poderá fazer diferença...

Geralmente as pessoas imaginam que arrecadamos mais ração que o necessário.

Mas não é assim. Quem tem um grande número de cachorros, sabe da dificuldade para alimentá-los. Contamos mensalmente com determinadas pessoas que tem mantido essa ajuda regular.

Essas ajudas regulares com ração, têm mantido em média, quinze dias de alimentação para nossos amiguinhos. O que falta para o restante do mês, compramos. E há muita dificuldade para isso.

Precisamos de RAÇÃO, RAÇÃO E RAÇÃO!!!

Há dois anos, aconteceu uma campanha incrível!

Eu estava tão desesperada por não termos como alimentá-los...

Rezei muito e brinquei com Deus, pedindo a ele que nos ajudasse, que conseguíssemos arrecadar tanta ração, mas tanta ração, que não tivéssemos onde guardá-la. Que eu pudesse tirar uma foto numa montanha de ração!!

Olhe as fotos...




Obrigada, obrigada, obrigada meu Deus!

Depois disso o resultado das campanhas foi diminuindo. Mas a ideia de que sempre arrecadamos uma quantidade enorme, ficou.

Recebemos também uma ajuda regular em espécie, que muitas vezes foi o que salvou nosso abrigo. Pois, além da ração, também temos muitos gastos com medicamentos, cirurgias, castrações, etc...

Com a proximidade das festas de fim de ano e das férias, as dificuldades aumentam. O número de animais abandonados aumenta e a ajuda com a ração diminui.

Por isso, peço novamente a você que nos ajude. Se você não puder ajudar com ração, mesmo assim compareça à Usina e leve calor humano. Isso faz muito bem ao coração...

E QUANTO A MIM?

Estou confiante, feliz!!
Quero tornar realidade todos os meus sonhos, continuar de onde parei.
Quero que aqui em nosso sítio, haja sempre muita paz, alegria e esperança de um mundo melhor.
Que você possa vir aqui compartilhar com a gente essa coisa boa que é amar a natureza, os bichinhos, os cachorros...



Tenho muitos planos em relação à proteção animal, mas preciso de ajuda para concretizá-los.

Quem sabe, ela já está a caminho...

Se não estiver, eu acharei um caminho, no tempo certo...

Porque agora eu sei que a minha paz estava guardada no fundo do meu coração, escondida em meio a tanto medo de perder meus bichinhos que tanto amo.

Voltei a enxergá-la e principalmente, senti-la.

E a paz que sinto, quero desejar a todos, a você...

Com carinho

Ceres--
http://www.youtube.com/watch?v=yT_v-A_5fXY

http://soscannisluppus.carbonmade.com/projects/2299349

http://www.slide.com/r/GPQgtRCuxz-YjfJlGRklBsMpYGhAa999

2 comentários:

  1. Parabéns Ceres e Acyr. Sorte destes peludos terem encontrado vocês. Espero que consigam seguir fazendo este trabalho, e que muitos cães sejam adotados por novas famílias que possam dedicar-se muito à eles. Bjs. Lísia

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  2. Parabéns pelo trabalho de vocês, que Deus sempre os ilumine e proteja! Abraço, Daniela

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